Síndrome de Down - Entre a celebração e a inclusão, existe o abismo do preconceito e, pasmem, da eliminação
- Lívia Borges
- 21 de mar.
- 3 min de leitura
O número de nascimentos com Down na Europa tem caído de forma significativa em relação às proporções do passado.Tal fenômeno é explicado por vários fatores, envolvendo principalmente o direito das mulheres. No início da década de 1980, um a cada 800 bebês nascia com Down, na medida em que as mulheres passaram a ter filhos mais tarde ao longo das quatro décadas seguintes, essa proporção passou a ser de uma a cada 460 bebês, pois quanto mais velha é a mãe, maiores as chances do feto desenvolver essa condição genética.
No entanto, os avanços que permitem detectar a síndrome de Down e outras condições no útero, somados à legalização do aborto na maioria dos países europeus, têm levado cada vez mais mulheres a optarem por interromper a gravidez. Na Europa, na última década, 54% das gravidezes em que o feto tinha Down foram interrompidas. Isso significa que nos últimos anos houve 50% menos bebês com síndrome de Down do que poderiam ter nascido na Europa.Hoje, dos 100% das crianças espanholas com Down que poderiam nascer, entre 90% e 95% não nascem. Essa queda fez com que a proporção de bebês com Down caísse de 1 em 800 na década de 1980 para 1 em cada 2000 hoje.
Se estamos caminhando para um mundo onde cada vez mais pessoas podem escolher quem nasce, devido aos avanços nos testes de detecção precoce para todos os tipos de condições, não apenas para Down, precisamos pensar sobre o que valorizamos. E à medida que nosso poder de escolha aumenta, quem são as pessoas que a sociedade pode deixar para trás? Há um grande valor no que não é perfeito. Se houver uma rachadura, é por aí que a luz pode passar. E as imperfeições são o lugar onde a humanidade se torna mais visível.
Fora da Europa, uma das vozes mais respeitadas é a da ativista americana com síndrome de Down Karen Gaffney, que passou décadas incentivando a discussão e derrubando estereótipos. Em uma eloquente palestra TED, Gaffney pede ao público que reflita sobre o que o futuro reserva para pessoas como ela em um mundo onde os testes pré-natais estão na ordem do dia. No vídeo, ela se lembra de ter ouvido o pai falar sobre as recomendações que o médico lhe deu após o nascimento. Ele havia sugerido interná-la, prevendo que, com sorte, a criança seria capaz de amarrar os cadarços ou escrever o próprio nome. "Esqueceu de falar no Canal da Mancha", diz aos risos, referindo-se ao feito de 2001, quando se tornou a primeira pessoa com síndrome de Down a cruzar o canal, que divide o Reino Unido do continente europeu.

O aborto de bebês com Down é uma suposta "purificação" da raça humana que no fundo causa um sentimento muito ruim, principalmente nas mães, pois elas irão morrer com a eterna angústia de desconhecer "quem teria sido aquela pessoa que eu descartei." Poderia ser essa ginasta mexicana do vídeo ou a minha maravilhosa sobrinha Luana Abhayomi.*
Por sinal não deixem de segui-la no Instagram! https://www.instagram.com/luanaabhayomi/
Por Marcos Ferreira
*Luana Abhayomi se tornou Agente de Inclusão Cultural da Pró-Consciência
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